Não te afastes do parto da tua mulher, és importante e necessário nele.
Doulas e parteiras acreditam que para trazer um bebé ao mundo são precisas duas coisas: o mesmo ambiente e as mesmas duas pessoas que fizeram o bebé.

O mesmo ambiente porque um ambiente íntimo, de privacidade, pouca luz, temperatura amena é um ambiente propício que traz à mulher a sensação de conforto e à vontade que são valiosos para que ela se entregue ao trabalho de parto.
As mesmas duas pessoas que fizeram o bebé, porque a mãe, obviamente, é que o tem em si para o trazer ao mundo e o pai porque ele protege e dá amor.
Isso mesmo, pai. Durante o trabalho de parto a tua missão é proteger e dar amor!
Muitos homens se sentem aflitos e sem saber o que fazer porque vêm as suas mulheres navegar um mar de dor sem que eles possam fazer nada para as livrar dela. Essa dor é natural ao parto, e ela deve existir porque ela é resultado da contração uterina que empurra o bebé para o mundo exterior. Se ela não existir, não existe parto, apesar de haver mulheres que têm contrações eficientes, mas sem dor. O nível de dor depende de cada uma de nós, e ainda em cada uma de nós depende de fatores emocionais, mentais, físicos, fisiológicos, do ambiente à nossa volta, do contexto do momento, de como encaramos o parto…
Por ver as suas mulheres passarem por tanta dor sem poderem livrar-lhes dela um sentimento de impotência muitas vezes toma os homens. Isto acontece porque o foco está em tirar a dor, o que é uma reação normal, já que aprendemos a associar dor a sofrimento – o que não deve ser o caso desta dor, ela trás gratificação no final-, e não poderem eliminá-la.
Isto pode fazer muitos pais também tomarem a decisão que o melhor para o parto das suas mulheres é que ele seja hospitalar e medicado, porque existe a epidural que tira a dor. Também por esta razão, desde um lugar de muita emoção e instinto protetor, o pai insiste com a sua mulher para que o nascimento do filho seja hospitalar e medicado, às vezes chocando com a vontade da própria mulher. Dessa forma ele garante que fez o que pôde para esse evento e não se sente impotente.
Mas calma… Tudo se resolve com informação.
Ilarion Merculief, um ancião índio do Alaska, costuma dizer: “O trabalho do homem é proteger o espaço da mulher para que ela possa fazer o seu trabalho invisível.” Trazer uma criança ao mundo é um trabalho invisível, por isso também nos dá tanto medo. A maior parte do tempo passado no trabalho de parto não se vê o que se está a passar, até que a criança chegue ao exterior. Aquilo que não vemos nos amedronta pelas suas infinitas possibilidades, é só pôr-nos num quarto escuro e deixar que a nossa mente tome conta do assunto criando todos os cenários possíveis e imagináveis do que possa ser o contexto à nossa volta.
Essa citação de Ilarion Merculief é-me preciosa porque ela mostra onde deve estar o nosso foco como acompanhantes de uma mulher em trabalho de parto: na proteção do espaço à volta da mãe, não necessáriamente da mãe.
Ela devolve à mulher o seu poder, soberania e autonomia sobre o seu trabalho de parto: ela sabe o que fazer – mesmo que a sua mente lhe incuta dúvidas, o corpo dela sabe e fá-lo tão automaticamente como faz a digestão.
Ela sugere não perturbar a mulher durante o trabalho de parto e deixar que ela se concentre unicamente nisso para o poder fazer bem.
Ela sugere a gestão e eliminação de fatores que possam desconcentrar a mulher do trabalho de parto e não deixar que ela o faça estando presente no momento e conectada consigo mesma para perceber o que o seu corpo precisa que ela faça. E quem faz essa gestão é o pai.
O trabalho de parto é começado e executado pelo cérebro primitivo. É preciso deixar que a mulher se conecte com a sua primitividade, instintos e intuição. Para isso ela precisa de entrar para dentro de si, estar extremamente focada em si, sem distúrbios de fatores exteriores como pessoas indesejadas, perguntas para responder, incómodos e tomadas de decisão constantes. A parte do cérebro que lida com os fatores exteriores é a racional. Se a mãe tem constantemente que sair do cérebro primitivo para o racional, para dar instruções, tomar decisões, responder a perguntas, o foco dela no trabalho de parto estará disperso. Se o pai tomar a dianteira e guardar o espaço à volta dela atendendo a todas as questões racionais, para que ela possa estar focada inteiramente no trabalho de parto submergida na sua primitividade, isso é o primeiro trabalho mais potente que ele poderá fazer durante o trabalho de parto da sua mulher.
Guardar o espaço atende também ao instinto protetor do pai, ajudando-o a canalizar as suas energias durante o trabalho de parto para algo útil, sem que ele fique com a sensação de impotência.
A segunda tarefa do pai durante o trabalho de parto é dar amor. Dar amor vai ajudar ao cérebro da mãe a segregar oxitocina natural dela, o que vai ajudar em duas coisas no corpo da mulher: na eficiência das contrações fazendo com que o trabalho de parto progrida bem, e na diminuição da sensação de dor.
Sim, amor tem ciência:
quando estamos num ambiente hospitalar e estamos a algum tempo em trabalho de parto ativo, e os médicos nos falam em acelerar o parto com oxitocina sintética (ou pitocina, seu outro nome) o que eles nos estão a dizer é que nos vão dar uma substância, que o nosso próprio corpo produz, mas que foi fabricada num laboratório – por isso sintética – cuja dosagem pode ser controlada por eles para criar contrações mais fortes e mais rápidas.
No nosso corpo a oxitocina - conhecida como a hormona do amor - é produzida cada vez que recebemos amor de todas as formas que ele é dado: criando um ambiente “romântico”, fazendo carícias, dizendo coisas agradáveis e carinhosas, beijando, massajando, tocando suavemente e com amor, fazendo amor, estimulando com cuidado as zonas erógenas. Muitas mulheres entram em trabalho de parto depois de fazerem amor exatamente por essa razão, a oxitocina que é libertada ao fazer amor age no músculo uterino – unicamente quando ela está pronta para dar à luz – criando contrações eficientes.
Por outro lado, ela também nos trás sensação de bem-estar, de prazer, de criação de laços afetivos de estarmos a ser bem cuidadas e amadas, e tudo isso contribui para que a sensação de dor seja diminuída, ou pelo menos, menos reconhecida pelo cérebro. Esta qualidade da oxitocina natural do nosso corpo é-lhe exclusiva. A oxitocina sintética não consegue dar-nos esta sensação de diminuição de dor, prazer, bem-estar e criação de laços afetivos. Ela só aumenta a frequência e a intensidade das dores, o que acaba fazendo com que as mulheres tenham muito mais dor durante o trabalho de parto e precisem da epidural para alívio dessa dor.
Então a oxitocina natural funciona muito melhor do que a sintética, e quando os nossos parceiros nos enchem de amor, eles estão a ajudar-nos a segregar mais e mais quantidade de oxitocina para fazer o trabalho de parto progredir não só bem fisicamente, mas de forma agradável, com menos sensação de dor. Sem falar que ao dar-nos amor, não só estão a ajudar-nos a segregar oxitocina para nós, como também estão a segregar oxitocina para eles mesmos, tendo o mesmo efeito psico-emocional, reforçando os laços afetivos entre o casal. Esta é a segunda tarefa poderosa dos homens durante o trabalho de parto.
É um trabalho feito em prol de trazer uma criança ao mundo, mas que em termos da relação do casal é um trabalho de equipa sem igual, que ninguém de fora substitui a experiência que é vivida por essas duas pessoas e o resultado poderoso e transformador que ela tem na vida desse homem individualmente, dessa mulher individualmente e desse casal como conjunto.
Toda a mulher se vai lembrar da forma como fui tratada durante o trabalho de parto. Todo o homem é fortalecido e transformado quando se envolve ativamente no trabalho de parto da sua mulher. É um momento de família e pode ser vivido de forma poderosa por mãe e pai.
Sara
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