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Um Olhar Holístico Para a Síndrome Dos Ovários Policísticos (pt.1)

Quando falamos em entender alguma coisa de forma holística precisamos olhar não só para as suas consequências, mas também para as suas origens fora do campo físico. Na perspetiva holística a nossa mente, corpo e espírito são um só. O funcionamento de um afeta o funcionamento de outro, e com as doenças que possamos carregar em nós acontece do mesmo jeito.





A medicina Ayurveda e terapia transpessoal ajudaram-me a compreender que há para além das influências ambientais e genéticas padrões de pensamento, comportamento, sentimentos e emoções que se somatizam no nosso corpo provocando reações físicas. A longo prazo estas reações podem transformar-se em doenças: a raiva por exemplo, causa-nos inflamação. A longo prazo este corpo em constante estado de inflamação pode desenvolver artrite reumatoide ou outras doenças inflamatórias crónicas.


Ao pensar num texto sobre a Síndrome dos Ovários Policísticos, mais uma vez me assombrou a impotência de não poder abordar o tema na sua enorme dimensão num texto.


Mas acho que o que mais quero que se perceba é que o caminho para gestão ou cura desta síndrome, tal como da minha endometriose, requer uma enorme e profunda transformação interna que mexe com as nossas vivências, com o que recebemos das nossas mães e suas vivências, a forma como interagimos com o nosso meio ambiente, como nos alimentamos, como e se fazemos exercício, como nos tratamos a nós mesmas e como encaramos o mundo.


No caminho para a cura, uma profunda transformação acontece a nível mental, emocional e físico que pode mudar por completo toda a nossa vida, e não é um processo fácil nem rápido. Leva anos e sacrifício, mas é extremamente gratificante.

Então para início de conversa, vamos entender um bocadinho melhor o que é a Síndrome do Ovário Policístico, a partir de uma perspetiva Ayurveda, que tem uma visão holística da nossa saúde.


Do ponto de vista da Ayurveda, a SOP é uma doença causada por excesso de Kapha. Kapha é um dos nossos três doshas, dosha é a caracterização do perfil biológico de uma pessoa que inclui características físicas, mentais e emocionais. Kapha é um dosha que simbolicamente resulta da união entre água e terra, é fisicamente consistente, robusto, resistente, denso, lento, estável, frio.


Todos temos no nosso corpo os três doshas, o mais predominante vai definir o nosso perfil biológico. Entretanto os doshas não são estáveis. Eles variam segundo aquilo que vivemos e como vivemos desde como nos alimentamos e respiramos a como reagimos e pensamos. A sua variação vai causar oscilações à nossa saúde também: quando os doshas estão em harmonia temos boa saúde, quando estão em excesso ou défice temos problemas de saúde.


Portanto a nossa boa ou má saúde física é resultado de todo o conjunto de acções, pensamentos e emoções que temos na nossa vida. Se estamos a respirar dentro ou abaixo da nossa capacidade, se nos estamos a alimentar bem, se fazemos bem ou mal a nossa higiene, se sentimos predominantemente sentimentos bons ou maus, como reagimos a pessoas e situações na nossa vida, que padrões de pensamento temos, que emoções mexem connosco, a que tipo de situações, pessoas e energias nos expomos. Isto fará oscilar os nossos doshas ao longo da nossa vida.


Kapha em excesso, entre outras coisas, adquire qualidades que de estagnação física, mental emocional e comportamental.


Na observação Ayurveda da SOP, em conjunto com a medicina ortodoxa, se conclui que a SOP é um distúrbio endócrino - do sistema de glândulas que produzem as nossas hormonas - que afeta o crescimento folicular. Um folículo é como se fosse um balãozinho dentro do nosso ovário que contém o ovócito para ser amadurecido e transformar-se em óvulo. Esse distúrbio hormonal faz com que os folículos afetados por ele não saiam do ovário para a trompa no que seria a ovulação. Estes folículos não são nem libertos, nem destruídos e reabsorvidos pelo organismo. O que faz com que eles se transformem em quistos.


Porque é que isto acontece?


Níveis elevados de insulina no corpo.

Porque Kapha desempenha funções na área digestiva, quando ele está em excesso afeta-a cansando a estagnação dos tecidos gastro intestinais. As qualidades frias e pegajosas de Kapha suprimem a boa digestão da comida, o que leva à formação de toxinas. Estas toxinas causam um mau funcionamento às nossas células, o que faz com que os recetores de insulina das células não reconheçam as estruturas químicas com que normalmente trabalham. A insulina, incapaz de acionar os seus recetores começa a acumular-se no sangue movendo-se por todo o corpo, e inclusive para o sistema reprodutor onde ela tem o trabalho de regular a função dos ovários.


Os níveis altos de insulina que o ovário está a receber estimulam secreção andrógena pelo tecido ovárico, aumentando a produção de testosterona – que é uma hormona masculina, por esta razão muitas mulheres com SOP apresentam sintomas como acne, alopécia, hirsutismo (muito pêlo). Este excesso de insulina também é o que não deixa que o folículo que não foi ovulado seja destruído e reabsorvido pelo corpo, que seria o que aconteceria em circunstâncias normais quando uma célula morre.




Porque a ovulação não acontece, também o nosso corpo mantém os níveis de estrogénio altos, para continuar a estimular a produção das hormonas que amadurecem os folículos criando assim um ciclo vicioso:



estrogénio para amadurecer o folículo, excesso de insulina não o deixa amadurecer, o folículo transforma-se num quisto e continua no ovário e o ciclo repete-se com o próximo folículo, e o próximo e o próximo. Isto é o que faz com que as mulheres não menstruem, porque acaba por não haver ovulação, e como consequência não há menstruação cada vez que o amadurecimento de um folículo é impedido.

No caso de mulheres que menstruem de forma irregular, acontece que por algum fator, que pode ser alimentar, emocional, mental ou comportamental que trouxe equilíbrio ao seu corpo, os níveis de insulina naquele ciclo não foram altos o suficiente para afetar negativamente o amadurecimento daquele folículo. Aí ele é amadurecido e solto para a trompa: a ovulação acontece, a menstruação se segue.


É importante referir que muitas mulheres são diagnosticas com SOP, unicamente por terem vários microquistos na periferia dos ovários ou folículos normais do período pré-menstrual que são confundidos com microquistos, sem apresentar os outros sintomas como a irregularidade menstrual, excesso de peso, aumento de pelos (especialmente em zonas masculinas como a barba e bigode, à volta dos mamilos, nas costas e peito) e acne. Não é obrigatório que esses sintomas sejam exacerbados na mulher, mas se houver ausência deles e o diagnóstico de SOP for feito unicamente porque apareceram microquistos na ecografia, pode ser que esta mulher não tenha SOP.


Por isso se a ecografia foi feita em período pré-menstrual, é muito frequente acontecer essa confusão. Já se a ecografia for feita depois da menstruação, corre-se menos risco de haver essa confusão.


Na próxima semana volto a falar sobre este assunto, que ainda temos pano para mangas. Entretanto deixo aqui links para websites em que poderás dar uma olhada melhor ao que são doshas e fazer o teste para saber qual é o teu dosha e como estão os teus doshas neste momento da tua vida.

Em português:

https://www.ayurvedica.pt/dosha-predominante

Em inglês:

https://www.banyanbotanicals.com/info/dosha-quiz/


Sara


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