A gravidez é um momento de muita alegria e esperar um filho nos traz bastante entusiasmo. Entretanto nem todas as grávidas o passam na crista da onda e para todas a gravidez é também um período de desafios, adaptações, crescimento e transformação.

Acredito que a nível psicoemocional a gravidez e parto são um ritual de passagem. A gestação assemelha-se ao período de preparação física e psicológica para o ritual, tanto para o bebé como para a mãe. O parto, o grande dia de celebração do ritual que vai mudar a nossa vida para sempre.
Durante esse tempo de preparação é importante cuidar de nós de uma forma mais profunda e diferente, por vezes pela primeira vez de forma consciente.
Se fizermos um paralelo com os nossos rituais tradicionais de passagem para entrada na vida adulta, meninas e meninos são mantidos por certo tempo isolados da comunidade, fazem atividades específicas e têm uma dieta especial para a preparação para o dia do ritual – este período corresponderia à gestação. Isto permite que física e psicologicamente eles estejam preparados não só para o ritual – correspondendo ao parto -, mas também para a mudança de vida que lhes vem pela frente – correspondendo à maternidade.
Hoje venho deixar seis sugestões de cuidados preparatórios para o período gestacional que acredito que ajudam muito a vivê-lo de forma mais consciente e fluída e contribuem para a preparação psicoemocional da mãe para o parto e a maternidade.
Primeiro de tudo ao descobrir a gravidez, podemos tanto ficar felizes, como ficar chocadas, assustadas, tristes, entrar em negação, achar que não é o momento certo.
Qualquer uma dessas reações é válida. O que sentimos é o que sentimos, não há sentir certo ou sentir errado. O sentir é só sentir, e tudo o que se sente é válido.
O que sentimos vem de um lugar que está no nosso inconsciente, e por morar aí diz muito sobre as razões profundas da sua existência. Muitas dessas razões podem até vir da nossa infância, da nossa própria experiência como filhos, daquilo que queremos para a nossa vida e para as vidas dos nossos filhos que seja igual ou diferente da experiência que tivemos nós como filhos. Qualquer que seja o nosso sentimento em relação à descoberta da gravidez é válido, ele tem base e fundamento. O necessário é ir à procura da razão para o sentimos, é para isso que esse sentimento existe, para nos dizer: “vê porque te sentes assim, talvez haja algo para analisar, rever, curar…”.
Ao analisarmos porque é que nos sentimos daquela forma ganhamos maior claridade sobre porque o sentimos e a partir daí podemos tomar uma decisão, agir em conformidade com o contexto em que estamos quando descobrimos a nossa gravidez e com o que sentimos na descoberta. Tomar uma decisão consciente sobre como vamos lidar com a nossa gravidez é importante para estarmos em paz com os próximos tempos que vamos viver e todas as mudanças que eles vão trazer para a nossa vida.
Depois de tomarmos essa decisão, vale muito a pena desapegar da necessidade de controle, deixar-se fluir e conectar-se com a intuição.
O segredo aqui é entender aquelas coisas pelas quais temos controle e podemos trabalhar nelas para melhorar a nossa situação e identificar aquelas que não temos controle nenhum e só podemos mesmo deixar que aconteçam.
Durante a gestação podemos ter todo um leque de sintomas que têm a ver com a gravidez, como podemos não ter. Há alguns que podemos fazer alguma coisa para diminuir, acalmar, gerir, então tomemos a decisão de o fazer e passar à ação: o corpo dói? O exercício físico diário diminui esse incómodo. Enjoos? Podemos tomar chás e fazer rebuçados de limão e gengibre, ou até medicação para os diminuir. Engordamos? Podemos sim cuidar da nossa alimentação para que estejamos a consumir só aquilo que é necessário e de forma saudável.
E há as coisas de que não podemos fugir: as mudanças do nosso corpo, por exemplo. A barriga vai crescer, o peito pode cair, as estrias podem aparecer. Isso tudo está fora do nosso controle, para melhor paz de espírito devemos deixar-nos fluir em vez de estarmos constantemente a frustrar-nos com isso.
O mesmo digo para as alterações de humor, vamos ficar mais sensíveis, irritadiças, a falta de sono vai nos trazer mau humor provavelmente… Há que estar consciente de que estamos a passar por flutuações de humor que são causadas pelas nossas hormonas e tanto não lutar contra elas, como não de se deixar afetar demasiado por elas. Procurar um equilíbrio em que nos observamos para percebermos quando uma situação nos toca mais do que o normal por estarmos grávidas e tentar não reagir e responder de forma mais intensa, mas ao mesmo tempo procurar não contradizer aquilo que estamos a sentir. Procurarmos a calma e o diálogo para resolver as questões, num momento em que estejamos mais emocionalmente disponíveis.
Que bem nos trás estarmos a lutar contra algo que não temos controle? Nenhum. Gravidez é um processo natural. Tanto fisicamente, a matéria de que somos feitos não é a mesma para sempre, como em termos de humor tudo se pode resolver. E assim seguimos a vida toda.
Deixar-se fluir, olhar para o milagre que estamos a criar e dar valor às coisas boas que só nós mulheres somos capazes de fazer é muito mais empoderador e faz-nos sentir muito melhor do que estar a lutar contra aquilo que não temos controle.
Digo na brincadeira que a gravidez é o momento de sermos egoístas. Passe livre!
Claro que não é para prejudicarmos ninguém nem sermos inconsideradas com quem está ali do nosso lado a apoiar. Mas é um momento para nos priorizarmos. Para nos pormos em primeiro lugar e pensarmos sempre “o que será melhor para mim?”.
Muitas de nós não sabem o que isso é, e tomamos decisões baseadas nos outros sempre ou quase sempre. Essas decisões podem nos sair bastante caras mais tarde se não nos dermos prioridade durante a gestação. Isso acontece porque apesar de estarmos a querer o bem dos outros vamos contra, ou não ouvimos sequer a nossa intuição, que nos fala para o nosso bem. É muito importante que durante a gestação passemos a treinar o ouvir a nossa intuição.
A gestação e o parto são fenómenos inteiramente primitivos e instintivos, há muito de se navegar no plano sutil e energético. É preciso que haja conexão entre nós e a nossa intuição para estarmos percetíveis ao que o nosso cérebro primitivo está a fazer e a comunicar. Quando pensamos na pergunta “o que será melhor para mim”, é necessário que façamos essa conexão com o lado intuitivo e instintivo, para trabalhar em conjunto com o lógico.
É perfeito que haja uma harmonia entre aquilo que os outros querem e aquilo que nós queremos ou que vai ser melhor para nós. Mas se não for possível, que durante a gestação nós nos priorizemos a nós, ouvindo bem aquilo que o nossos instinto e intuição nos dizem que precisamos.
Saber pedir, saber exteriorizar aquilo que queremos e precisamos é importante, saber dizer que não é importante em todos os momentos da vida. Nesta fase é importante saber pedir àqueles que nos rodeiam que sejamos realmente protegidas e envolvidas em positividade, e também saber dizer não e afastar-se da negatividade.
A gravidez de alguém na nossa família é a oportunidade perfeita para que todos juntos como família façamos cada um, um exame e análise de consciência, buscando melhorar como pessoas.
Avaliando aquilo em que podemos melhorar para melhor ajudar a mãe gestante e aquilo em que podemos melhorar para sermos um bom modelo para a criança que aí vem. Seria espetacular que assumíssemos esse compromisso e nos juntássemos ao ritual de passagem de forma consciente para deixarmo-nos transformar e evoluir para um nível mais alto da melhor pessoa que podemos ser e rodear essa mãe e esse bebé de positividade e amor verdadeiros.
O negativo não contribui para ninguém. Por isso, se houver gente negativa, situações negativas, energias negativas, essa mãe tem todo o direito, se não o dever, de se afastar delas para fazer o seu processo de gestação mais em paz. Stress que a mãe sofra durante a gestação se reflete não só na saúde dela, mas também na qualidade da saúde de cada órgão do bebé que está a ser formado dentro dela.
E claro, também a mamã pode e deve procurar melhorar, evoluir fazer-se a melhor versão dela mesma durante a gestação.
Analisar os seus processos pessoais e contraditórios que surgem durante a gestação e procurar aprender deles para emergir uma pessoa melhor, mais forte, mais dedicada, mais o que quer que seja positivo que ela possa e queira ser. Esta atitude beneficia-nos a todos individualmente e à criança que vamos receber.
Atenção que esse processo deve ser feito com gentileza. Nunca de forma forçada, obcecada, nunca com ansiedade de chegar ao fim, nunca com falta de compreensão e compaixão por nós mesmas e pelos outros. Se não transforma-se em algo que nos pressiona e nos causa stress mais do que a paz de espírito que se busca e o que resulta daí não é crescimento, mas sim obsessão por crescimento. Faz-nos muito mal e pode até causar paranoias e transtornos de humor.
Em último lugar, mamã: faz o que amas!
Faz aquilo que te trás felicidade, alegria, que te faz sentir alegre e nas sete quintas. Namora, vai passear, passa tempo na natureza, vai a exposições de arte, dedica tempo ao teu hobbie, dança, rodeia-te das pessoas que amas e que te fazem bem, brinca, escreve cartas às pessoas que amas, perdoa, resolve os conflitos desde uma base de amor, faz paz, afasta aquilo que não te faz bem… Tudo aquilo que traga mais amor, harmonia e paz ao teu coração, vai ajudar-te a gestar um bebé feliz e saudável, a sentires-te bem durante a tua gestação e a tornares-te na melhor versão de ti mesma, semana a semana.
Sara
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