O banquinho de parto, a música calma… A bola de pilates, a piscina de parto… O quarto só para nós, a exclusividade e o conto de fadas…
É assim que parto humanizado tem sido publicitado e esta tem sido uma armadilha que vamos precisar de ter o cuidado de não nos deixar cair nela.

O parto humanizado tem sido agora publicitado por clínicas em Luanda, e muitas mulheres têm se deslocado a essas clínicas na esperança de terem a experiência do parto humanizado, mas recebendo aquilo que o marketing fez o brilhante trabalho de re-significar como parto humanizado, e não o verdadeiro parto humanizado.
Um parto perfeitamente humanizado pode acontecer no meio do mato, em casa da parturiente, num hospital público ou num privado, desde que se apliquem os três pilares da humanização da assistência ao parto.
Primeiro pilar: Devolução do protagonismo e autonomia da mulher durante a gravidez, parto e pós-parto.
A assistência dada à mãe deve ter em conta e como prioridade a mãe e o bebé, as escolhas e preferências da família nuclear (mãe e pai) e o respeito à fisiologia do parto, ou seja, o respeito ao facto de que o parto é um evento fisiológico, tal como é a digestão, e deve decorrer de forma mais natural possível, sem intervenções desnecessárias.
Para se devolver protagonismo e autonomia à mulher, esta mulher e seu parceiro têm o direito de receber toda a informação necessária para que tomem as suas decisões de forma informada e consciente. Todas as opções de abordagem à gestão do seu parto devem também ser-lhe apresentadas, sem serem forçadas, mas conversadas para que a tomada de decisão seja conjunta entre a família e o médico. Também qualquer intervenção ou exame que sejam propostos à mãe devem vir acompanhados de uma explicação de porque são necessários, quais outras opções existem, o que acontece se não se fizer nada e quais são os efeitos secundários e consequências dessa intervenção ou exame.
Toda esta informação deve ter o respaldo de evidencias científicas atualizadas e de fontes confiáveis. Este é o segundo pilar da assistência humanizada ao parto.
Entretanto não é só a informação que deve ser baseada em evidências científicas, é também toda a conduta obstétrica e neonatal que se tenha com a família em causa. A medicina está em constante movimento e evolução, portanto existem práticas que há alguns anos atrás eram consideradas corretas e necessárias e que hoje após estudos e pesquisas à sua aplicação elas foram modificadas, corrigidas ou eliminadas. Isto acontece por exemplo com a conduta da aplicação da episiotomia como procedimento de rotina em todos os partos vaginais, que foi atualizada pela Organização Mundial da Saúde para ser aplicada só quando necessário, com o consentimento da mãe e deixar de ser um procedimento de rotina.
Para que se saiba se a conduta médica está a ser uma que está baseada em evidências científicas atualizadas, é necessário que a família esteja informada e bem educada sobre as últimas atualizações da medicina no que concerne ao tipo de parto que tenham escolhido para si. É preciso que não esperemos que sejam os profissionais a facultar-nos sempre toda a informação, até porque isso não é uma expectativa realista. O mundo da saúde materna é enorme e não há tempo suficiente nas consultas para que se possa passar aos pacientes toda a informação de que eles precisam saber. É preciso que os pais dos tempos modernos utilizem as suas ferramentas da informação para se educarem mais e melhor sobre este evento tão importante nas suas vidas.
Documentários, blogs, podcasts, websites, revistas e jornais científicos online têm bastante informação sobre cada coisa que se precise saber, por isso durante o tempo da gestação é importante que aos poucos se vá pesquisando e aprendendo mais e mais sobre estes processos se queremos nos assegurar de que as clínicas nos estão mesmo a fornecer uma assistência humanizada e não só o conto de fadas que o marketing criou para atrair mais clientes.
Finalmente o terceiro pilar nos diz que a humanização requer que a assistência seja multidisciplinar.
É importante haver uma equipa com vários campos de acção a cuidar desta mãe e família que recorrem a esta clínica para o seu parto. Um exemplo de uma equipa multidisciplinar seria uma equipa que se apresenta com um obstetra, neonatológo, um psicólogo, um nutricionista, enfermeiros que acompanhem continuamente a mãe, consultor de lactação, doula, e se a mãe tiver outras necessidades clínicas de alguma outra especialidade, estar também esse especialista a trabalhar em conjunto com essa equipa.
Esta equipa multidisciplinar vai tratar de personalizar o atendimento às necessidades específicas da mãe e do bebé e envolvendo o pai de uma forma mais abrangente e holística, tendo o cuidado de observar os vários campos do ser que requerem atenção neste momento para além da área obstétrica.
Se quisermos fazer uma cheklist rigorosa, há que respeitar estes três pilares para se dizer que a assistência ao parto numa instituição médica é de facto humanizada.
Entretanto, de uma forma mais flexível a assistência que tiver em conta o cuidado com informar a mãe e seu parceiro, respeitar as suas necessidades e escolhas sabendo ouvir a sua paciente e acompanhante, tomar decisões em conjunto (médico, parturiente e parceiro), ter uma conduta e abordagem que respeite a fisiologia do parto e não exponha a paciente a intervenções desnecessárias e a violência obstétrica, e tenha um trato respeitoso e digno tendo em conta a aplicação de uma abordagem cuidada e segundo evidências científicas atualizadas, é uma assistência humanizada.
Sara
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