Dando uma olhada ao panorama da vida, no nosso futuro temos tendência a olhar para aquilo que queremos conquistar, tudo que ainda está no plano das ideias. No nosso passado vemos um cenário mais realista: alegrias, tristezas, lutas, sacrifícios, memórias boas e más, traumas, dificuldades, momentos que se sentiram de dificuldade mas que afinal comparando com o presente ou outros vividos depois, não foram assim tão difíceis. O mais provável é que o futuro, por mais que melhore, seja tal qual o passado: com altos e baixos, momentos de festejar, momentos de batalhar, momentos tranquilos, momentos tediosos, momentos de dúvida, momentos de desistência, momentos de insegurança, momentos de levantar sacudir a poeira e dar a volta por cima.

Dentro de todos esses momentos estão as nossas relações e o amor é uma coisa complicada. A paixão é outra, os dois têm uma força espetacular que nos leva a aproximarmo-nos e criarmos relações com pessoas iniciadas por sentimentos e emoções, não pela razão. E não está errado isso. Há que sentir sim.
Mas quantas vezes já nos foi provado que esses sentimentos, por mais nobres, lindos e intensos que sejam, não seguram uma relação? Ao mantermos uma relação vamos nos encontrar com inúmeras situações em que vamos ter que nos adaptar, saber aceitar, saber respeitar o outro como ele é, saber impor os nossos limites, crescer, evoluir, tomar a decisão mais racional, ter um eterno jogo de nos darmos sem nos esquecermos de nós. Saber dar liberdade, saber ser honesto, saber respeitar-nos a nós como somos, sabermos que temos o direito a ter aquilo que queremos ao mesmo tempo que equilibramos com não exigir o impossível para o outro.
Há um campo bem racional na relação que é bom conseguirmos perceber e analisar. Especialmente se tal pessoa é aquela que escolhemos para partilhar o resto da vida: da vida que vai ter altos e baixos, momentos de festejar, momentos de batalhar e momentos tranquilos e tediosos...
Literalmente tudo nos pode acontecer na vida. E aí, essa pessoa que escolhemos para a vida, aguenta a barra connosco? Vai ser parceir@?
Ao olhar para aquilo que é uma relação para a vida inteira penso que amor e paixão fazem muito. Também cegam muito, fazem-nos acreditar que só aquilo chega, mas é preciso equilíbrio. A muito boa gente podemos amar e estar apaixonados, mas pode ser que não sejam os parceiros para a vida. A partir desse momento que se escolhe parceiro para a vida é muita a responsabilidade que recai sobre os ombros dessa pessoa e sobre os nossos. É a responsabilidade de saber aguentar todas as barras da vida do lado daquela pessoa, e se não souber, estar disposto a aprender do juntos. Esta não é tarefa fácil, e torna-se mais difícil ainda quando se cria uma família.
Diz-se que a família é a base da sociedade, antes dessa base ainda vem a base casal.
A base casal é como uma dupla de SWAT que tem que ter a back um do outro. Se funcionar de outra forma demasiado recairá sobre um ou sobre outro, criando desgaste.
Essa dupla SWAT tem que estar bem treinada para as suas missões, cada um assume o comando daquilo em que tem mais talento ou especialidade, mas os dois têm as mesmas valências e um pode cobrir quando o outro não pode. Tem confiança e cumplicidade, tem honestidade e diálogo constante, têm que haver acordos internos para que interferências externas não abalem a dinâmica da dupla. Tem que haver um constante trabalho de melhoria e manutenção de cada um individualmente e da dupla. Tem que haver compreensão, um tem que conhecer bem os pontos fracos e fortes do outro, assim como cada um individualmente deve saber e assumir os seus pontos fortes e fracos.
Bastantes vezes encontramos a pessoa para a vida e pensamos “ok, estabilizei”. Nope… Não estabilizei nada, há muito trabalho a fazer! Uma relação é sensível e dinâmica, precisa de upgrades, updates, e uma constante disponibilidade para entender parceria: “associação ou sociedade de indivíduos que tem por fim a preservação de interesses comuns” (infopedia.pt)
Quais são os interesses comuns? Conversamos sobre isso no início da decisão de partilhar a vida? Conversamos sobre como vamos defender os interesses comuns e que melhorias temos que fazer para isso?
Esta é a parte racional que é bom que exista para dar equilíbrio ao emocional, que tem super boas intenções e onde a gente sempre deixa toda a responsabilidade dizendo que “amor pode tudo”. O amor nos dá a disponibilidade, a vontade a força para enfrentar muito. Mas a razão ajuda a entender como enfrentar. E há muito para enfrentar na vida, como diz uma amiga “são muitas lutas”.
Quando temos filhos as vidas, desenvolvimento cognitivo e estabilidade emocional desses pequenos depende de nós. Depende muito de nós estarmos bem, bem como indivíduos e bem com casal, e aí sim a família está bem.
Vamos tomar conta de nós, saber o que somos e o que queremos. Expor isso aos candidatos para partilhar a vida, sem nos esquecermos que há diversas formas de partilhar a vida, não só a popular “casar e ter filhos”. Ver quais são os interesses comuns e como os preservar. Se já estamos dentro da parceria, fazer o exercício nada fácil mas valioso de rever tudo isso, ir buscar o foco da parceria, recalcular o itinerário e direcionar-nos para o nosso objetivo.
A razão é uma ótima aliada e não deixa a relação esfriar quando é usada de forma equilibrada.
Trabalhemos juntxs.
Sara
Photo Credit: Spencer Charles Photography