O mundo que criamos para nós tem um objetivo claro: produção. Para atingir esse objetivo o nosso estilo de vida tem que ser adaptado para produzir mais, melhor, de forma eficiente e contínua. Por isso ele está estruturado de forma a que desde que somos pequenos vamos para a escola para começar a aprender o básico, para depois irmos para as universidades e formações profissionais para aprendermos o específico e a seguir entrarmos no mercado do trabalho e produzirmos. Vivemos para sermos humanos úteis para a sociedade. Mas o mundo foi estruturado desde uma perspetiva masculina, sem ter em conta a biologia feminina.

Entre todos os outros mamíferos isto não se constata. Os outros mamíferos estão a viver para viver, sabendo que terão sempre o que comer, porque a natureza provê, nós vivemos continuamente com essa preocupação, por isso precisamos produzir para poder comer.
Nada contra termos um objetivo pessoal na vida, mas é preciso equilibrar com a nossa natureza e biologia.
Pouco ou nada no nosso estilo de vida de seres úteis e produtivos para a sociedade tem em conta a nossa biologia. Nós estudamos e trabalhamos até nos esgotarmos física, mental e emocionalmente, a seguir vamos a uma instituição que corrige/gere esses esgotamentos, muitas vezes com químicos feitos para terem um efeito muito rápido nos sintomas que sentimos, mas que nem sempre tratam as nossas questões a partir da raiz, para estarmos prontos para o mais rapidamente possível irmos produzir outra vez.
O sistema reprodutor da mulher foi desenhado pela natureza e biologia para começar a funcionar para a produção assim que ela tem a primeira menstruação, como é com todos os mamíferos. Nos outros mamíferos nós não nos questionamos que a fêmea é muito nova, imatura, que precisa casar, que não acabou a escola ainda, que não tem um emprego ainda quando ela fica prenha. Ela fica prenha muito pouco tempo depois de o seu sistema reprodutor começar a funcionar porque as suas hormonas e as hormonas do macho os atraem uns para os outros para a reprodução tal como acontece com os adolescentes.
Lembro-me de em conversa com uma parteira tradicional estar a falar sobre a minha endometriose e ela dizer que era um problema que podia acontecer com mulheres que “não tinham amigo”. Ou seja que depois de começar a função reprodutiva o sistema reprodutor não era posto em uso.
Nós humanos temos uma série de requisitos socias a ser preenchidos antes de podermos nos considerar aptos para a reprodução. O que é justo e adequado à nossa vida social, mas é preciso perceber que vai contra a nossa natureza biológica. Ao percebermos isso temos que saber substituir uma coisa por outra.
Ao não darmos uso ao nosso sistema reprodutor como a biologia desenhou para que se dê, devemos adotar medidas que substituam esse uso de forma a que o sistema reprodutor não comece a desenvolver problemas por não estar a ser usado, por não estar a fazer bebés. Tal como uma casa nova, pronta para ser habitada, se não o for, ela começa a degradar-se por desuso, o mesmo acontece com o nosso sistema reprodutor.
Um substituto para o não uso do nosso sistema reprodutor é o exercício físico diário. Isto é outra coisa que os outros mamíferos todos fazem, e que as mulheres do campo também fazem. Por isso a menor incidência destes problemas em mulheres do campo.
Mas a mulher urbana é mais sedentária, passa muito mais horas sentada, o que bloqueia e faz ficar mais lenta (as qualidades de kapha, lentidão, peso, consistência de massa, estagnação são aumentadas) a circulação de sangue para a zona abdominal onde estão contidos também os seus órgãos reprodutores.
Mais uma vez a biologia desenhou-nos para estarmos ativos diariamente, mas o nosso estilo de vida não nos permite.
A boa circulação de sangue permite oxigenação, nutrição, hidratação, estabilização de temperatura, limpeza de toxinas e impurezas, renovação de células dos nossos músculos e órgãos, com uma má circulação, o resultado é óbvio. A longo prazo os problemas vão surgindo. As longas horas sentadas que passamos no carro, na escola, no trabalho, em casa quando estamos cansadas e nos sentamos no sofá para ver novelas, fazem com que aos poucos as doenças se vão desenvolvendo no nosso corpo.
Precisamos encontrar um equilíbrio na nossa vida entre a nossa biologia e o nosso estilo de vida, de forma a termos atos diários que favorecem a manutenção da nossa boa saúde.
Por outro lado, a mulher moderna está exposta a um nível absurdo de stress. Parece que o stress é a forma de viver e quem não estiver stressado não está a fazer nada da vida. Nós absorvemos stress daquilo por que temos controle e daquilo por que não temos controle.
Notícias que nos vêm de outra parte do planeta que em nada podemos contribuir, stressam-nos. Mensagens que entram o tempo todo nos telefones com assuntos que não são urgentes, geram-nos ansiedade de responder imediatamente.
Os nossos trabalhos e estudos exigem de nós demasiado e isto stressa-nos. As nossas relações tensas, stressam-nos. O deslocar-se de um lugar para outro, especialmente quando há que cumprir horários, stressa-nos. A lista do que nos stressa diariamente é longa, mesmo sem irmos ao detalhe de cada problema individual.
A mulher moderna para além do stress que o cidadão moderno vive, tem o stress de que para ser respeitada, valorizada, para crescer na sua carreira ter que praticamente lutar contra o homem. Essa disputa injusta a que somos expostas diariamente, em que temos que proteger o nosso corpo e dignidade ao mesmo tempo que temos que fazer trinta vezes mais e melhor do que os homens para que o nosso trabalho seja valorizado, faz-nos muitas vezes ter que tomar atitudes mais masculinas para nos impormos na vida.
Muitas mulheres têm que adotar comportamentos masculinos, como demonstrações de força, de raiva, agressão, falar mais alto e mais grosso/firme, ter um comportamento e postura mais masculina para ser ouvida ou para a sua sobrevivência: seja para defender-se de agressões, seja para levar o seu salário para casa.
Os nossos corpos têm a capacidade de dar resposta aos comandos que lhes damos – mesmo sem termos consciência que estamos a dar -, produzindo o que é necessário para que continuemos a usar os recursos que precisamos. Dessa forma a nossa espécie evolui.
Neurologicamente o comando que estamos a dar ao nosso corpo ao diariamente ter atitudes mais masculinas é que se aumente a produção de hormonas masculinas para ajudar-nos a manter esse tipo de comportamento. E daí surge o desequilíbrio hormonal que caracteriza a SOP, a androgenia. Por isso depois os efeitos colaterais da subida de peso, hirsutismo, acne, de características físicas masculinas.
Isto pode ter início na vivência de uma só mulher, ou já vir em cadeia de geração para geração na sua linhagem feminina, se as suas ancestrais tiveram que fazer o mesmo. Pode ser que a doença se manifeste na última da geração só, ou pode ser que já se tenha manifestado em alguma outra anterior a ela, dependendo de há quanto tempo e em que geração se originou o padrão.
O stress geral, que pelos motivos conhecidos já nos causa problemas de saúde, mais o stress adicional de ter que se igualar a um homem e o adotar comportamentos masculinos, porque vivemos num mundo de homens, e posicionar-nos no mundo de forma mais masculina criam o ambiente no nosso corpo para que o desequilíbrio físico e hormonal aconteça e a SOP se desenvolva.
Mais uma vez a forma como a sociedade nos obriga a responder a ela, faz com que adoeçamos, e precisamos rever a forma como respondemos ao que ela requer de nós. Fazer o caminho inverso e recorrer a formas de ser e estar mais em harmonia com a nossa natureza feminina irá ao longo do tempo reprogramando o nosso cérebro para a não necessidade de produzir mais hormonas masculinas o que leva ao equilíbrio dos nossos níveis hormonais para que eles sejam saudáveis.
Nós temos um corpo inteligente que responde ao nosso meio ambiente. Não só àquilo que comemos, mas a tudo o que vivemos. Ele adapta-se àquilo que precisamos dele, pois tudo manifestamos através ele. Então ele vai criar mutações em nós para que possamos responder de forma adequada àquilo que precisamos responder, mas essas mutações terão os seus efeitos colaterais. E até que se estabeleça na nossa biologia e evolução que esta é a nova norma, como foi o passar de caminhar em quatro patas para duas, esses efeitos colaterais se sentirão no nosso corpo como desequilíbrios.

Imagino que todo o período em que o nosso ancestral passou de quadrúpede para bípede teve bastantes dores nas costas e teve todo o seu sistema de transmissão nervosa que utiliza a coluna vertebral como condutor a sofrer efeitos colaterais que se refletiram no funcionamento dos órgãos que dependem dessa comunicação até que uma harmonia fosse estabelecida. Mas isto durou milhões de anos.
Olhando para nós de forma holística, entendendo como funciona a SOP, vemos que há todo um conjunto de aspetos a abordar para reestabelecermos o equilíbrio e harmonia no nosso corpo: uma alimentação equilibrada, exercício físico diário, comportamentos e forma de encarar a vida que nos beneficie o equilíbrio mental, psicológico e hormonal.
É toda uma mudança de estilo de vida, de mentalidade e de comportamentos com o foco no equilíbrio e não na produção desenfreada, que exige demasiado de nós e nos leva ao desequilíbrio.
Isto obviamente vai levar-nos a questionamentos profundos sobre nós mesmas, sobre como queremos ser vistas e ver-nos na sociedade, sobre como queremos nos sentir connosco mesmas e nessa altura vemos um bocadinho do enorme que é a dimensão da SOP.
Se isto te fez algum sentido, eu encorajo-te a continuares a pesquisar cada vez mais fundo sobre SOP, a observar-te e buscar um equilíbrio entre os requisitos da sociedade e o teu bem-estar. Para começar, sugiro que te sentes de cócoras todos os dias, checa os links:
https://www.siddhiyoga.com/pt/malasana-squat-garland-pose
https://www.youtube.com/watch?v=FWwphSvHV0Q
Sara
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