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Atraso Na Descida Do Leite e Demanda de Amamentação

Atualizado: 11 de nov. de 2020

Deste a luz e é tua decisão amamentar.

É lindo, as publicidades sobre amamentação aparecem com mães sorridentes e carinhosas, filhotes gordinhos ternos, parece todo um momento suave e amoroso.





Longe de não o ser, essa imagem não é mentira nenhuma, a amamentação também traz os seus desafios, e para muitas mulheres é um mar de dúvidas, confusão e muita dor.


Acreditarmos que o nosso leite não é suficiente, não termos leite mesmo, termos os mamilos muito doridos ou virados para dentro, termos os peitos inflamados e doridos ou até mesmo chegarmos a ter uma mastite, não conseguirmos a pega certa, ficarmos com feridas nos mamilos, são problemas com que muitas mulheres lidam durante o processo de amamentação e que nos levam a desistir dele.


Muitas vezes a imagem positiva que temos da amamentação faz-nos pensar que há alguma coisa de muito errada connosco e por isso paramos.

A notícia é: todo o problema tem solução, os desafios são fases, não há necessidade de parar.


Procurar uma consultora de lactação não é mal nenhum se temos problemas com a amamentação. Muitas vezes as mulheres da nossa família que nos poderiam ajudar, neste momento estão a fazer mais pressão ainda (seja para darmos bem a mama, seja para suplementarmos com fórmula) e isso não ajuda. Então mais vale ir atrás de conselho profissional de alguém que sabe de facto como resolver os problemas e da qual profissionalmente se exige empatia e cuidado na forma como se dirige a nós.


Hoje vou falar de dois problemas da amamentação que nos acontecem com frequência, a tardia descida do leite e a confusão que temos com a demanda do leite quando pensamos que não temos leite suficiente par ao nosso bebé.


Frequentemente os nossos problemas com a amamentação começam aonde nós não pensamos que eles começariam: nas medicações dadas durante o trabalho de parto.


Mães que recebem medicação para a gestão da dor durante o trabalho de parto e mães que têm partos de cesariana, planeados ou não têm mais chances de desenvolver problemas na amamentação do que mães que têm partos naturais não medicados, especialmente um atraso na descida do leite.


Este atraso pode fazer com que muitas mães fiquem desesperadas e pensem que não terão leite para os seus filhos nunca. Contudo, é preciso estarmos cientes que o primeiro mês de vida do bebé é crucial para o sucesso da amamentação, por isso paciência e positividade.


Durante esse mês o nosso corpo está a estudar as necessidades nutricionais do bebé para adaptar a nossa produção de leite à sua demanda.

É necessário que não se pare de estimular a amamentação durante essas primeiras quatro semanas, pelo menos antes de desistir, para que a informação que o nosso corpo esteja a receber seja a de haver uma real necessidade de produção de leite. Se não dermos peito ao bebé, ainda que não esteja a descer leite, ou se não estimularmos a descida do leite com uma bomba, o nosso corpo entende que não há necessidade de produzir leite, e não produz mesmo.


É assim que quando paramos de dar de mamar, aos poucos produzimos menos e menos leite até que ele seca. E é assim também que avós muitas vezes são capazes de dar de mamar aos seus netos mesmo não lhes tendo dado à luz. Estimulando a descida do leite com a sucção do mamilo.


Quando temos leite e estamos a dar de mamar, às vezes pensamos que a criança não está a comer o suficiente porque come pouco e chora muito, ou bolsa muito e acreditamos que vem tudo cá para fora e o bebé não aproveita nada.


É preciso nos lembrarmos que aquele ser pequenino, também tem um estomago pequenino e aquilo que acreditamos que é pouco, pode na verdade ser muito mais do que o bebé aguenta (especialmente se é daqueles que bolsa muito - o estomago fica cheio demais e precisa por alimento cá para fora). No primeiro dia de vida, o estomago do bebé tem o tamanho de um berlinde. Não custa nada encher um berlinde. Também não custa esvaziar, por isso é normal que pouco tempo depois de comer o bebé peça mais comida.


Lembram-se da gravidez e de não conseguir comer grandes quantidades de comida? A recomendação de todos os profissionais é comer pouco e comer com mais frequência.

É disso que o bebé precisa também, mamar pouco e com mais frequência. É ele, o bebé, que vai nos dizer quando mamar e quando não mamar, portanto ele chorar com frequência e mamar pouco é um sinal de que ele está bem sincronizado com as suas necessidades alimentares, não deixa o seu estômago encher demais, a ponto de ter que por leite cá para fora bolsando muito, e logo que ele está vazio e volta a sentir fome, ele pede a mama de novo.


Este processo é cansativo para a mãe sim. A demanda constante da mama vem mudar o que era o nosso dia livre de usar o nosso corpo para a alimentação de outro corpo, isto stressa sim. Por isso é importante a mãe estar num ambiente calmo, sem muita demanda de atividades que não sejam relacionadas com o bebé, porque a atenção que ela precisa de dar ao bebé é muita, frequente e contínua.


Com o tempo o estomago do bebé vai crescendo e ele vai deixando de ter de mamar com tanta frequência. Os corpos de mãe e bebé se sincronizam, por isso não é preciso estarmos preocupadas com quando isso vai ser. Aos três dias de vida mais ou menos, a capacidade do estômago do bebé aumenta para o tamanho de uma bola de ping-pong e aos dez dias de vida ela tem o tamanho de um ovo grande de galinha.


No primeiro mês e meio o estomago dos bebés vai crescendo gradualmente, e eles alimentam-se 8 a 12 vezes por dia em média – e isto não é igual para todos os bebés-, diferente de nós adultos que nos alimentamos 3 ou 5 vezes por dia conforme o arranjo social das nossas refeições.


Os bebés não vão tomar pequeno-almoço, almoço e jantar, com os lanches no meio como nós. Vão mesmo precisar de muito mais frequência alimentar porque têm estômagos mais pequenos e tomam um alimento de fácil digestão. Não leva o mesmo tempo digerir leite materno (ainda que seja um superalimento) que digerir papa, que já leva farinha de trigo ou outra, que digerir um bife. O leite materno é especialmente feito para ser de fácil digestão pois o organismo do bebé não tem ainda a maturidade suficiente para digerir alimentos que custem mais. Por isso a alimentação do bebé é gradual.


O estomago de um adulto terá por vota de 30 cm de diâmetro, e o do bebé vai gradualmente crescendo de uma bola de berlinde, que são em média 16 milímetros, não há necessidade de darmos leite ao bebé da mesma forma que nós tomamos leite, só o estamos a sufocar e a provocar indigestão.


É preciso sermos sensíveis à comunicação do bebé (que é diferente da nossa) e prestar atenção a quando ele precisa de parar de mamar, e quando dele precisa de mamar de novo porque já digeriu aquele bocadinho que tomou à bocado.


Sara


Photo Credit: Eibner Saliba on Unsplash

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